A Copa do Mundo de Futebol Feminino
Gabriela Dutra
Advogada e Presidente da Comissão de Esportes e Lazer da 48ª Subseção da OAB/MG
Email: advogadagabrieladutra@gmail.com
Todos os dias as mulheres enfrentam obstáculos em razão do gênero, e com o esporte não é diferente, mais da metade dos praticantes ainda é do sexo masculino, segundo relatório da ONU para diagnosticar a prática de esportes no país.
No Brasil, o desencorajamento do esporte para mulheres possui raízes históricas na legislação. Em 1964, com o Decreto-lei nº 3.199, às mulheres não era permitida a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, quais sejam, atividades não condizentes com a sua capacidade física.
Mais tarde, em 1965, o Conselho Nacional de Desportos deliberou que às mulheres não seriam permitidas as práticas de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, pólo-aquático, pólo, rugby, halterofilismo e baseball. Sendo assim, a história da legislação brasileira é um dos motivos pelo qual a participação feminina ainda é minoritária no esporte.
É preciso uma desconstrução da fragilidade do corpo feminino perante a sociedade, a fim de demonstrar que no esporte não é, necessariamente, a força que prevalece, mas sim, a técnica.
A participação masculina no esporte se deu claramente de forma mais natural e espontânea, pois o esporte foi desenvolvido e pensado por eles. O crescimento do esporte depende muito de incentivos do poder público e da iniciativa privada, contudo, em um país em que o investimento no esporte é escasso, o desafio das mulheres só aumenta, pois o preconceito e a falta de incentivo nas escolas, a falta de segurança, são fatores que se observam quando o esporte no Brasil não tem o mesmo acesso por meninas.
No entanto, o apoio e o incentivo podem começar dentro de casa, onde, segundo pesquisa do IBGE/2015, as mulheres possuem uma carga horária de tarefas domésticas em média de 20,5 horas semanais, enquanto os homens possuem uma carga horária de 10 horas semanais.
A prática esportiva na fase adulta de forma amadora está muito ligada aos momentos de lazer, as mulheres esportistas trabalham, treinam e competem. E a atividade física é capaz de impactar diretamente na vida pessoal e profissional da mulher, o esporte é uma ferramenta de empoderamento e de transformação de realidades, capaz de aumentar o foco e determinação diante de qualquer desafio que o ser humano se propõe.
Esse ano as mulheres deram um grande passo no esporte, com a transmissão em Tv aberta pela primeira vez, da Copa do Mundo Feminina de Futebol que está acontecendo na França durante o mês de junho.
O evento está recebendo um apoio, como antes nunca visto, das mídias e marcas internacionais, e muito embora esteja ainda distante de receber a mesma atenção que a Copa do Mundo de Futebol Masculino, não deixa de ser motivo de comemoração e um convite aqueles que ainda não se renderam as maravilhas do futebol feminino.
O esporte, seja ele qual for, é lugar de mulher sim, pois, “o lugar de mulher é onde ela quiser”, e as pessoas precisam entender que a estrada é longa, as diferenças existem, mas não impedem que a mulher “jogue”, pois têm força e tem intensidade, e mais do que querer, o que as mulheres querem simplesmente é “poder”.
Gabriela Dutra – Advogada e Presidente da Comissão de Esportes e Lazer da 48ª Subseção da OAB/MG Email: advogadagabrieladutra@gmail.com